quinta-feira, 5 de junho de 2014

#10 design do séc XXI . entrevista bernhard burdek

Este post surge a partir da entrevista feita pela professora Katja Tschimmel ao designer e professor Bernhard E. Bürdek que podem visitar no link a baixo:



Pretendo por isso analisar e comentar os temas e ideias apresentadas nesta entrevista que se baseia numa discussão sobre o Design, o seu papel na sociedade e as mutações que tem sofrido.

Mas antes desta análise passo a fazer uma breve apresentação dos dois intervenientes para se perceber o seu papel no universo do Design e a forma como isso poderá influenciar a sua opinião.

Bernhard E. Bürdek

"Bernhard E. Bürdek é designer, consultor, professor e autor de design.
Lecciona na Hochschule für Gestaltung Offenbach am Main as disciplinas Teoria do Design, Metodologia de Projecto e Design Estratégico no Departamento de Design de Produto, onde foi director entre 2001 e 2007. Foi professor convidado em muitos países em Europa, América e Ásia. É autor de vários livros, entre eles a famosa obra Design. History, Theory and Practice of Product Design que em 2006 foi traduzida para o português numa versão actualizada. Bernhard E. Bürdek foi um dos últimos alunos da legendária Escola de Ulm." (retirado em 22 Abril 2014 de http://designdeengenho.blogspot.pt/2008/06/design-no-sculo-xxi-uma-entrevista-com.html)




Katja Tschimmel

"Katja Tschimmel é investigadora, formadora, consultora e autora nas áreas de Design e Criatividade. É professora na Escola Superior de Artes e Design em Matosinhos (ESAD) e no Mestrado em Inovação e Empreendedorismo Tecnológico (MIET) da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto."(retirado em 22 Abril 2014 de  http://designdeengenho.blogspot.pt/2008/06/design-no-sculo-xxi-uma-entrevista-com.html).





Esta entrevista teve lugar pela presença de B. Burdek em Portugal para levar a cabo a conferência  “Design no Século XXI”, que decorreu por ocasião do lançamento do Prémio de Design CIFIAL’08 – “Sentir o Planeta Terra”.


A entrevista propriamente dita começa por isso com o comentário da prof Katja que refere que em 1998 Burdek defendeu que a ideia do design dos anos 90 tinha sido marcada por uma tendência decorativa e banal e questiona se passado 10 anos isso se mantém.

Burdek responde que realmente parece estar muito pior, o que a meu ver, é verdade, pois neste momento, o Design é uma moda, há uma tentativa exagerada de inserir a palavra Design em tudo o que se faz, de forma banal e apenas como estratégia de marketing.

Em Portugal esta arte é completamente menosprezada, na medida em que designers são meros artistas que criam alguma coisa, embelezam aqui ou ali, dão um jeitinho ou fazem cartazes.

Em todas as minhas conversas em que defendo a minha área como sendo essencial para tudo o que fazemos, geralmente as respostas são de uma certa ignorância e desprezo.

Na minha opinião, o Design está presente em tudo, directa ou indirectamente. 

Está nas cadeiras que nos sentamos todos os dias, nos copos onde bebemos água, nas garrafas de onde a água sai, nos carros que nos permitem movimentar, nos computadores sem os quais não vivemos, nos supermercados (quer seja a nível de organização como da embalagem/branding dos produtos), está no interior das nossas casas, no trabalho, na faculdade, no museu, no café, no ginásio.

O Design rodeia-nos de forma subtil, responde às necessidades, cria e resolve problemas, dá opções e provoca as existentes.

O problema será mostrar ao público em geral a forma como o Design é essencial para o dia-a-dia. 
Sem dúvida que existem as grandes Artes como Arquitectura e Engenharia que têm anos e anos de prática e de estudo, mas o Design, nasceu e tem vindo a crescer e merece a importância referente a tudo o que descobre, a tudo o que proporciona e faz acontecer.

Acho que este menosprezar se sente mais em Portugal por receber e compreender sempre mais tarde tudo o que já está a "todo o gás" no resto da Europa e até no Mundo, mas escolas como a ESAD têm vindo a mostrar a sua posição no país, têm vindo a revolucionar não só local, mas também a nível nacional e até europeu com projectos inovadores e merecedores de aplausos, que demonstram não só a importância do Design mas também o potencial do povo português.


Outra das questões faladas é também o papel do designer, a forma como ele pensa o produto, quais as suas influências, o que procura do design e a forma como o explora.

Ou seja... há uma procura por um efeito imediato, cria-se, quer-se sucesso, mas este sucesso é procurado pelo choque que se provoca, pela atenção que se chama aos meios de comunicação. 
A meu ver, para se criar bom design deve haver toda uma evolução, um estudo, uma influência de tudo o que nos rodeia, desde as artes propriamente ditas até à coisa mais banal do dia-a-dia. O filtro que surge de tudo isto é que nos permite criar, depois de anos de estudo, de experimentação, de tentar e falhar.
Este efeito imediato é por isso errado e enganador, são poucos os que fazem bem à primeira, são ainda menos os que se mantêm depois do sucesso.

Um dos exemplos apresentados foi Ingo Maurer (http://www.ingo-maurer.com/de/), que se destacou ao apresentar iluminárias provocantes e completamente fora de série, puras obras de arte.

Este designer fez parte do "Novo Design Alemão", que teve o seu boom nos anos 80 sendo que Ingo Maurer foi um dos únicos que se manteve até aos dias de hoje, não pelo choque que provoca, mas pelo estudo e consciência com que trabalha a luz.

 johnny b. butterfly light
 zettel'z 5 light 

 









































Em Portugal, eventos como o Experimenta Design e o Oporto Show permitem conhecer e difundir o Design e o que se tem projectado a nível nacional, mas também há o senão, em que se associa este Design a um modo de vida, talvez um pouco elitista, que só está ao acesso de alguns.

Mas o que acontece depois disto? Depois do evento acontecer, depois de se ter gasto "rios" de dinheiro? Os projectistas têm 3 dias de fama, mas na prática quais são os projectos que são efectivamente produzidos, ou têm um retorno do investimento que fizeram para que aquela exposição estivesse pronta.

O design cria soluções, respostas e qualidade de vida, vai de encontro ao mais pequeno pormenor do utilizador, sofre avanços e recuos, mas evolui. Por isso é que se criam utopias do Design, em que os projectistas como pensadores que nunca param, têm o desejo contínuo de mudar, revolucionar e melhorar o espaço que os rodeia.

A meu ver, haverá sempre utopias, haverá sempre a necessidade de melhorar algo, consoante a cultura, o espaço, o tempo, a idade e as influências que vivemos.